Teoria da racionalidade limitada

Pense na seguinte situação.

Você tem uma amiga e ela vive voltando para aquele cara errado, o famoso atraso. Também viu na televisão que o tubarão atacou uma pessoa lá no Nordeste mesmo com tantos avisos e incidentes próximos. Ou aquele seu amigo que vive se metendo em furada e escolhas trágicas.

E então você deve se questionar, mas o que é isso? Um traço de personalidade subversivo? Um chamado ao vazio? Idiotice?

Eu sei, eu sei, essas perguntas martelam nossa cabeça, mas como em tudo na vida nossa intenção não é estar certo, e estar menos errado.

Vamos lá. Somos cheio de vieses que nada mais são que uns “tiltes” de deliberação, dentre eles, cita-se: a reatância, o custo irrecuperável, a aversão à perda, dentre outros.

Porém irei falar da teoria da racionalidade limitada, alcunhada pelo ganhador do Nobel, o economista Herbert Simon.

O que é a teoria da racionalidade limitada?

Em geral, significa que as pessoas tomam decisões bastante razoáveis com base nas informações que têm, mas não dispõem de informações perfeitas, principalmente de partes mais distantes dos sistemas.

Dito de outra forma, fazemos o melhor para beneficiar nossos interesses imediatos, mas levamos em conta apenas o que sabemos. Não sabemos o que os outros estão planejando, até que o façam. Raras vezes enxergamos a gama de possibilidades diante de nós. Então, em vez de encontrar uma ótima solução a longo prazo, descobrimos, dentro de um limitado alcance, uma escolha com a qual podemos conviver por algul tempo e a ela nos apegamos. Mudamos o comportamento somente quando somos forçados a isso.

Não interpretamos de modo perfeito as informações imperfeitas que temos. Contabilizamos mal os riscos.

É claro que isso não justifica comportamentos tacanhos, mas ajuda a melhor compreende-los e tolerá-los , pois no contexto que eles surgem são totalmente razoáveis.

Veja, substituir um individuo por outro nessa situação não ajuda a ter uma resultado mais favorável, por uma razão basal: essas dissonâncias cognitivas são inatas à mente humana.

E afinal, como sair desse espiral?

Simples, olhar as coisas sob uma lente mais ampla, macro e holística. Isso não aniquila, mas mitiga seus efeitos colaterais, já que há uma distribuição do fluxo de informações e um refinamento no seu tempo de reflexo.

Ao fim e a cabo, essa é a essência do raciocínio, que pode ser entendido como os “meios para aumentar o conhecimento do mundo e tomar melhores decisões”.

O ponto é que pensar demais também gera distorções de julgamento, pois raciocinar não é um padrão onipotente nem mesmo está descolado do contexto.

Em seu âmago, pensar é criar narrativas e argumentações adaptativas de autoconvencimento para reduzir a incerteza do ambiente e aumentar a sua ilusão de controle.

Moral da história somos todos caoticamente vulneráveis à desinformação.

Ninguém está aqui para tornar um ser iluminado, e sim para criar contextos de pertencimento entre tribos diversas.

A meta fim não é tomar melhores decisões, mas sobreviver e, para isso, a aprovação social é vital.

Dito isso, a questão é desarmar os julgamentos e trilhar o caminho da compreensão, pois não há um raciocínio magnânimo, lógico, invencível e ubíquo, que converse com todos os grupos e interlecutores.

A ideia é alcançar a alteridade e consciência do pluralismo de ideias. Todo mundo é emissor de uma lógica proposicional que, se desplotada do contexto argumentativo da pessoa, gera falhas miseráveis. Ninguém é burro, tudo gira sob a perspectiva ancorada.

A mensagem é tolerância ao diferente e sem vaidade intelectual. Todo mundo sabe alguma que você desconhece. Comuniquem-se. Criem zonas dialéticas e talvez tudo isso um dia te torne menos ignorante, a começar por saber o que você não sabe.

Tente pensar ou não pensar com a sua cabeça. Movimentar à sua maneira. Isso não significa que sua ideia ou caminho é melhor que a do outro. Mas sim que o único caminho que você pode percorrer é o seu. Então, ele é o único que te serve. Pois então, escute e respeite a todos, mas ao final escolha por si mesmo.

Obrigado por me ler.

Menções honrosas e créditos ao episódio Naruhodo #378 – Por que avisos de perigo não são seguidos? • B9 e o livro “Pensando em Sistemas: Como o pensamento sistêmico pode ajudar a resolver os grandes problemas globais, da autora Donella H. Meadows.”

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