A liberdade é uma vertigem? – Sob olhar de Dostoiévski

la galera, como vocês estão?

Espero que vibrantes pela paz, amor e saúde.

Bem, rendi-me aos clássicos, gostaria de falar com vocês sobre uma passagem de um livro ontológico da literatura mundial, Os irmãos Karazámov, de Dostoiévski.

Ainda não o acabei, mas nele há uma passagem que não podia esperar melhor hora para compartilhar com vocês.

É algo que estou sempre revivendo por aqui, como neste post , que fala basicamente sobre os partidários dos prazeres efêmeros, dos status sociais e da sacramentalização do ter, em detrimento do ser.

Irei transcrever em literal a passagem, pois não teria a pretensão de remendar um dos mais célebres escritores, que, por certo, goza de brilhantismo suficiente para ser aclamado em todas suas nuances, as quais me curvo em deferência.

Vamos a ela:

Fiódor Dostoiévski

“Porque o mundo diz: “Satisfazei os vossos desejos, pois tanto direito tendes vós como o rico e o poderoso. Não temais satisfazê-los, antes sim multiplicai-os. Eis a moderna doutrina do mundo. E nela dizem que se apoia a liberdade. Mas que resulta desse direito à multiplicação de desejos? No rico, o isolamento e o suícidio espiritual; no pobre, a inveja, o crime. Já que lhe outorgam os direitos e não lhe ensinam a satisfazer as suas necessidades, asseguram que o mundo está cada vez mais unido, e estreitam mais os laços de fraternidade, como se desaparecessem as distâncias e as doutrinas se fundassem no ar.

Ah! Não acrediteis em semelhante união. Interpretando a liberdade como o aumento e a pronta satisfação de desejos, desfigura o homem da sua própria natureza, na qual se fomentam disparatadas e loucas ambições, hábitos e ridículos caprichos. Não se vive mais do que para a inveja mútua, para o luxo e a ostentação, e considera-se uma necessidade ter riquezas, amizades, carruagens, títulos e escravos para o serviço e por isso se sacrifica a vida, a honra e todo o sentimento de humanidade, chegando ao suicpidio. Até aos menos afortunados acontece o mesmo, pois que só os pobres afogam necessidades e cobiças na bebida. Mas cedo chegará o dia em que beberão sangue em vez de vinho, pois a esse ponto os leva a sociedade. E eu pergunto-lhes: serás livre assim, o homem?

Não é de admirar que em vez de conquistar a liberdade hajam caídoo na escravidão e que longe de servir a causa da caridade fraterna e da união da humanidade, provoquem, pelo contrário, as dissensões e o isolamento de que falava o meu misterioso visitante e mestre. Por outro lado, a ideia de servir a humanidade, da caridade fraterna e da solidariedade da espécie, ofusca-se cada vez mais no mundo e às vezes é acolhida com desprezo.

Como despojará o homem dos seus vícios, e que pode esperar-se desses escravo de si próprio acostumado à satisfação de todas as necessidades que inventou? Isolado no seu egoísmo, que lhe importa o resto da humanidade? Vão se amontoando riquezas, mas a alegria está diminuindo no mundo.

Na vida monástica sucede algo muito diferente. Torçam da obediência, das rezas e penitências, e este é o caminho que conduz a uma real e verdadeira liberdade. Resisto aos meus gostos supérfluos e desnecessários, subjugo e castigo com a obediência o meu orgulho e vaidade, e por intermédio de Deus, consigo assim a liberdade de espírito que traz consigo a alegria.

Quem está mais apto a conceber uma grande ideia e servi-la, o rico encastelado nos seus bens ou o homem que se livra da tirania dos objetos e dos hábitos?

Fabuloso, inefável e reflexivo.

Pois, então, “Quem está mais apto a conceber uma grande ideia e servi-la, o rico encastelado nos seus bens ou o homem que se livra da tirania dos objetos e dos hábitos?

Esta é a minha mensagem: Não seja escravo de si próprio.  Conservai seu coração e educai no seu afeto. Já dizia a compositora Ivone Lara: “O que a mão ainda não toca. Coração um dia alcança“.

Fiquem bem e obrigado por me ler.

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