Coração capitalista e novos paradigmas

A grande remodelação, cunhada por grande renúncia, com início no fim do COVID-19, tem sugerido uma tendência: muitas pessoas deixando seus empregos voluntariamente. O mote desse movimento, ao que parece, é que as pessoas estão mudando de emprego- em muitos casos, deixando empregos que pagam melhor, mas exigem longas horas, e encontrando empregos que talvez paguem menos, mas lhe dão mais controle sobre suas vidas

Os gatilhos mudaram, as pessoas não almejam mais uma trajetória previsível até a aposentadorias. Hoje, os fatores à tona são: saúde mental, eventos adversos ao trabalho, tempos de qualidade e isolamento.

A inquietação que agita essa transição é, em linhas gerais, o pensamento de pano de fundo: “Por que escolhi trabalhar tão duro, se, na verdade, não tenho certeza se realmente gosto do meu trabalho; mas eu sei que eu realmente amo meus filhos, amigos, meus momentos de qualidade e eu realmente não acho que eu quero trabalhar dessa maneira mais.”

A tônica não é mais a oportunidade de mercado, e sim a oportunidade de vida.

Vige um apelo muito forte pela assunção do controle sobre nossas vidas de maneira mais ativa, de modo a defender nossas necessidades e desejos imediatos e escaloná-los conforme as prioridades mais prementes.

O que, porém, não suprime o imperativo da temperança em angariar uma “almofada de dinheiro” para as contingências da vida. Um aspecto também sublinhado na pandemia. Claramente os excessos nas bordas devem ser evitados, já que não são saudáveis e denotam um romantismo ingênuo.

De toda forma, percebe-se que o sistema anacrônico do modelo trabalhista está em vias de ser disruptado, é preciso pensar a relação de trabalho em blocos colaborativos que prestigiem a flexibilidade e a autonomia.

O planejamento de vida e, sobretudo, financeira, hoje, parece ser modulado com marcos na emoção, e não só em widgets de uma estabilidade e aposentadoria futura.

A trilogia- “Você precisa de um fundo de reserva de emergência”; “você precisa pagar sua dívida” e “você precisa tentar colocar dinheiro na aposentadoria” – já não randomiza mais as necessidades de investimentos de tempo e capital.

A boa ideia passou ser a pensar em como aproveitar parte desse dinheiro, sem descurar da efemeridade da vida à medida que gerencia e faz malabarismos com a escassez dos recursos.

O recado final, portanto, é que o mercado parece demonstrar sinais das dores do crescimento. A olho nú, ele está em processo de atualização. Seguindo a máxima da modernidade: Nada é estático ou fixo. Tudo está em processo de vir a ser.

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