Por que a leitura é a janela para o incomum?

Cresça com o hábito da leitura

Era 2019. Cataclismo.

De supetão, sem aviso, a vida me tirou. Fim de um relacionamento com uma menina que me banhava do amor divino. 

Enigma. Coisa de alma. Deus sabe, então confiei. Logo depois, meu pai se foi, nasceu para vida eterna.

De novo, outro desatino, não era nada antifrágil às tristezas da vida, logo, definhei na tirania de pensamentos hiperativos em busca de um sentido.

Mas não me rendi,  no luto dos desfechos inevitáveis, tive a força férrea para sorrir para recomeços avassaladores.

Podia abrir a boca para chorar. Podia abrir o instagram para me inundar de flashes num platô de felicidade maquiada. Porém, não o fiz, naquele estado, era impotente até para abrir a janela do quarto para deixar a luz inebriante do sol entrar e iluminar de novo o caminho do amor e dos próximos sorrisos.

Peço perdão pelas minhas hipérboles e eufemismos. Careço de estilo para explicar o inexplicável. 

De todo modo, vou voltar à monotonia do pragmatismo, da jornada do herói, da razão e resiliência.

A verdade é que não abri a boca para chorar, porque escolhi abrir minha mente através dos livros.

Meu Deus, de início, como era intragável silenciar toda aquela efusão de sentimentos martirizantes e alcançar a paz, serenidade e solitude necessárias para imergir nas letras dos livros.

Só que eu quis, eu fiz ser.  

Percebi que as letras formam frases e frases contam histórias de pessoas que tentaram explicar sua presença no mudo. 

Para o então menino acanhado no medo e angústias, tornei-me intrépido, comecei levemente a esticar a cortina e paulatinamente abrir a janela. A da mente e a do quarto.

Nossa senhora. Viajei, ahhh, como eu viajei. Aquilo que era um exercício maçante de esforço e mortes diárias de tédio foi ganhando contornos esperançosos e libertários. Eu dizia: caramba, tem coisa aqui.

Tenaz, reforcei meus votos de perseverança, continuei e desbravei. 

De repente, eu passei a visitar Roma, Holanda, Paris, rodar o Brasil, cenários e mais cenários, histórias e mais histórias, que me tiravam de onde eu menos queria estar: na minha cabeça.

Bem acompanhado. Prosa boa. Gabriel Garcia, Leo Tolstoi, Dostoiévski, Vicktor Frankl, Diamond, Taleb, Herman Hesse, George Orwell, Machado de Assis, Ayn Rand, Sêneca, Marco Aurélio, Russel, Victor Hugo, Lincoln, Benjamin Franklin, entre tantos outros gênios. Peregrinei em assuntos como guerra, psicologia, política, governo, economia, comportamento, significados. Putz, eu vivi lampejos da eternidade por meio das lentes e mentes mais avançadas.

Que tropa de brilhantismo opulente. Quando vi já estava sobre ombros de gigantes e gigantes não olham no espelho, então todas aquelas noias e intempéries já não refletiam sobre meu humor mais. Todo aquele senso de desconexão e  engarrafamento mental tornou-se fluído em um novo mundo de possibilidades. 

Tudo isso por um simples gesto de coragem: nos meus piores dias, eu escolhi abrir um livro. E, pouco a pouco, fui ligando os pontos, pensando com mais clareza, subvertendo minhas certezas, desmanchando meu ego e dissolvendo meus preconceitos e ignorância ao me expor ao diferente. Toda grandeza começa pequena.

Sim, o hábito da leitura me tornou uma pessoa melhor. Ela me abriu para o meu mundo ao falar de personagens e histórias que nunca vivenciei – e nem vou. 

Aprendi que guerras são destrutivas, sem lutá-las. Aprendi que psicodélicos tratam de transtornos mentais, sem ter que usá-los. Aprendi que minhas agruras são pó frente a episódios horrendos da humanidade. Aprendi que pensar é um ato revolucionário. Aprendi que o conhecimento permite controlar o que te controla. Aprendi que o amor é a estrada real para uma vida mais significante. Aprendi que vulnerabilidade é o maior gesto de intimidade. Aprendi que sabemos muito menos do que achamos que sabemos. Enfim, aprendi a aprender, um abissal de troca, que hoje eu reproduzo, passo adiante, de forma simbiótica e, naturalmente, ao chegar na cachola de alguém, fatalmente, vai deixar o mundo daquela pessoa, pelo menos naquele momento, um pouco melhor.

Talvez seja essa a mágica do hábito da leitura, crescer e evoluir sob a lâmpada do conhecimento e bem-aventurança alheios. Uma sinergia avassaladora que gera coevolução.

Você ganha repertório para pensar melhor e pensar é a melhor forma de co-criar sua realidade desejável, expandir sua consciência e tornar-se já hoje o que você quer ser amanhã.

Com os livros eu redimensionei meus critérios de qualidade. Separei o efêmero do infinito. Hoje, companhias ocas, mídias sociais, bebida, exageros, festas e extravagâncias tornaram-se triviais. Então é fácil praticar o desapego. A equação sempre tende para os livros. Tenho um ímpeto de “F.O.M.O” insaciável. Todo investimento de tempo e recursos só é feito se de alguma forma contrabalanceia com o tempo de qualidade que eu teria ao ler. Isso elevou meu jogo. O sarrafo é outro.

Os livros foram meus faróis e desejo genuinamente que sejam de outros também.  Foram também meu antídoto para todas feridas da alma. Autoaceitação e reflexão crítica, seus produtos. Tornei sábio para mim mesmo e herdei a honra das minhas lutas. Fui atravessado por um permanente sentimento de interconexão e soube dar forma ao mundo à minha volta. Foi como acender a luz numa casa escura. Minha mente já não era mais uma prisão, e sim um parque de diversão. É como se o livro fosse um martelo que ia quebrando toda rigidez mental. Hoje sou capaz de explicar minha presença no mundo.

Poxa, como sou grato por começar. Que regozijo. Obtive uma experiência de ternura comigo mesmo.

Digo a você, o mundo tornou-se plano na era da olimpíada tecnológica global, em termos de conhecimento. O fluxo de ideias que tocou – e toca- em mim, pode tocar em você, basta querer. 

Então, para encerrar, vou deixar uma frase que, inclusive, como não podia ser diferente, colecionei dos livros: “Em tudo é preciso começar. O começo é mais que a metade do todo- Aristóteles”

Um bom começo para você. Ler é uma educação espiritual. Talvez não te dê o que você quer, mas te dará o que você precisa. Abra-se para o novo. Cultive o hábito da leitura, que os frutos serão duradouros. O sábio será cumulado de bênçãos, não por tê-la, e sim por tanto buscá-la.

*Obs: texto integralmente de autoria própria, com a ressalva das citações incorporadas

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